Nascemos e (morremos) sozinhos nesse mundo, e não temos que depender de ninguém pra viver.




Eu sempre amei a frase de desdém que Rhett Butler despejava em Scartett O’Hara na última cena de “E o vento levou” (1939), desmanchando o par romântico mais conhecido e inconstante da história de Hollywood. Rhett profere essas palavras ácidas justo quando Scarlett afirmava o seu amor por ele, e questionava-o sobre o que iria fazer se ele partisse de sua vida. É que Scarlett é uma jovem mimada e petulante, que passa o filme inteiro almejando casar-se com Ashley Wilkes, um amor não correspondido, e quando se dá conta de que realmente ama Rhett, já é tarde demais.


Essa é uma de minhas frases preferidas do cinema. Eu a amava e a odiava. Eu amava odiar o tamanho desprendimento de Rhett. Como ele teve rapidamente o estalo de não querer mais aquele amor? Como ele consegue se desvincular de Scarlett tão facilmente, igual a alguém que joga fora uma bituca de cigarro? Cadê o fim choroso e lamentoso pelo amor que se acabou? Como ele conseguiu perceber o momento exato em que passou a não amar mais aquela pessoa? E mais: como ele teve forças o suficiente para se desamarrar daquele amor de maneira tão prática?


Engana-se quem crê que o mais difícil de um relacionamento é o seu início, é a primeira vez, conhecer a família ou o primeiro “eu te amo”. A parte mais dura é perceber quando esse acaba. É saber ver que só restam as cinzas do que um dia foi amor. Pode até ainda ter o companheirismo, a amizade, a atração, e isso só dificulta reconhecer que o amor mesmo se foi. Tem que ter muita coragem pra não cair no comodismo de continuar a vida a dois. De voltar a viver “sozinho”, acabar com um pote de sorvete sozinho, passar o final de semana de pijama foreveralone, completar a coleção de livros de autoajuda. De levar a sério o “antes só do que mal acompanhado”.


Nascemos e (morremos) sozinhos nesse mundo, e não temos que depender de ninguém pra viver. Não devemos procurar metades que nos completem, e sim inteiros que se doem e se deem bem. Mas ainda assim é impossível ter uma visão tão prática do fim. É que quando entramos num relacionamento e deixamos uma pessoa fazer parte da nossa vida, quando nos tornamos vulneráveis mostrando o nosso pior e o nosso melhor pra aquela pessoa, é impossível não perder o chão, não faltar o ar, não dar aquele aperto no estômago, não se amedrontar ao cogitar a possibilidade de tal pessoa não fazer mais parte de nossa vida. É aí fazemos como Scartett e nos perguntamos: “E o que vai ser de mim (sem você)?”.

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